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Vida de Santa Beatriz

"Santa Beatriz da Silva fundou a Ordem da Imaculada Conceição para o serviço e a celebração do mistério de Maria em Sua Conceção Imaculada" Art. 9,1

Ninguém é por acaso...

Santa Beatriz da Silva nasceu na vila alentejana de Campo Maior, por volta do ano 1437. Os seus pais, D. Rui Gomes da Silva e Meneses, alcaide-mor da vila de Campo Maior e conselheiro do Rei D. Duarte, e D. Isabel de Meneses, tiveram treze filhos que educaram primorosamente.

Da sua infância e juventude a história não salienta nenhum facto mas, naturalmente, decorreram num ambiente de paz e de piedade. Sabe-se pela história de Casa dos Silvas que era uma família nobre pelo sangue e mais ainda pela sua vida de piedade e vivência cristã. Como exemplo disso basta dizer que um irmão de seu pai era Cónego; além de Santa Beatriz, outro seu irmão tem a honra dos altares, o Beato Amadeu da Silva; vários de seus irmãos tiveram filhos consagrados na vida religiosa.

Beatriz recebeu, uma profunda formação cristã no lar paterno, pois a família relacionava-se com os Frades Franciscanos que intervieram sua na educação, não sendo portanto difícil de acreditar que a sua infância e adolescência foram de uma intensa piedade e de caridade para com todos.

De facto, só uma virtude sólida e praticada por longos anos poderia resistir às terríveis provações de que foi alvo e que alteraram profundamente a sua existência. A esmerada educação humana e cristã que recebeu de seus pais foi o alicerce firme do edifício das virtudes heróicas da sua vida maravilhosa e fecunda.

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Pintura de Nossa Senhora para a qual Santa Beatriz serviu de modelo

Um combate de nobreza

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Como a família de Beatriz era aparentada com o rei de Portugal, quando a Princesa D. Isabel contraiu matrimónio com D. João II de Castela escolheu Beatriz para uma das suas damas. Não deve ter sido fácil, para a jovem Beatriz, deixar o ambiente piedoso da casa paterna para passar a viver numa Corte, onde o ambiente era frívolo e corrupto.

Na Corte de Castela, a sua deslumbrante formosura, realçada pela nobreza do seu nome, foi causa de muitas disputas e ciúmes entre cavaleiros e nobres que pretendiam a mão da honesta Beatriz. As injustas calúnias que levantaram contra ela fizeram crescer na Rainha certos ciúmes, que a levaram a odiar aquela que antes tanto admirava. Para se ver livre da suposta rival, encarcerou Beatriz num cofre de ferro, que se encontrava no subterrâneo do palácio. A inocente vítima, na obscuridade do cofre, sentindo a morte a aproximar-se e vendo perdidas todas as esperanças humanas de salvação, voltou-se para a Mãe do Céu a quem sempre votara sincera piedade. A tão fervorosa oração acudiu a Imaculada, aparecendo-lhe com o Menino nos braços. Livrou-a da asfixia mortal e revelou-lhe a missão a que Deus a tinha destinado: a fundação de uma Ordem em honra da sua Imaculada Conceição (questão muito debatida entre os teólogos dessa época). Quando no fim de três dias a rainha foi certificar-se da morte de Beatriz, não coube no seu espanto ao ver que ela estava viva e mais admirada ficou ao saber da sua resolução de abandonar os prazeres e honras da Corte para se recolher num mosteiro.

Poder-se-ia perguntar: como conseguiu Beatriz sair ilesa da prova de fogo a que foi submetida a sua virtude? Certamente, pelos valores de pureza que os seus pais lhe inculcaram, pelo hábito de oração intensa, pela confiança em Maria Imaculada que nunca abandona os que a ela recorrem. Oxalá as jovens de hoje se sentissem cativadas pela beleza moral e quisessem imitar esta heroína da pureza!

A Rainha encerra Santa Beatriz no cofre
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Nossa Senhora aparece a Santa Beatriz,
dentro do cofre
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À espera de missão...

Beatriz, mulher de grandes decisões, procurou preparar-se rapidamente para a nova vida que ia começar. Com um pequeno séquito percorreu as léguas que separavam Tordesilhas de Toledo, e passando por um monte vieram ao seu encontro dois Frades da Ordem de São Francisco, que a saudaram em Português. Ao vê-los Beatriz sentiu muito medo, pois pensou que a Rainha ainda a queria matar, e por isso lhe enviava aqueles Frades para que ela se pudesse confessar. Então Beatriz perguntou-lhes a razão da sua vinda, ao qual um dos Frades, que parecia ser Português, lhe respondeu que não temesse, pois vinham para a consolar e anunciar-lhe que seria uma das maiores Senhoras de Espanha e que as suas filhas seriam conhecidas em toda a cristandade. Beatriz alegou que nunca se casaria, nem que fosse com o Imperador, pois tinha feito voto de virgindade à Rainha dos Céus, mas os Frades disseram-lhe que tudo se cumpriria com lhe tinham anunciado. Assim conversaram pelo caminho até que chegaram a uma estalagem e, no momento em que Beatriz insistia com eles para que ficassem com ela, os dois Frades desapareceram misteriosamente. Beatriz compreendeu então que eram S. Francisco de Assis e Sto. António de Lisboa de quem sempre tinha sido muito devota.

Depois deste episódio, chegou a Toledo e deu entrada no convento de S. Domingos- o Real. Aqui viveu durante trinta anos uma, vida austera e disciplinada, de intensa oração, penitência, humildade e pobreza.

Apesar de não ser religiosa, pois não emitiu votos, vivia como se o fosse. A sua obediência à Superiora, o seu amor ao silêncio, a sua extrema caridade para com os pobres começavam a impressionar aquelas que com ela viviam. Além disso, era muito devota de Jesus Sacramentado, com quem passava longas horas do dia e da noite, reservando poucas horas para o sono. Também participava em todas as Missas que se celebravam na capela do Mosteiro.

Meditava frequentemente na Paixão de Cristo e para, de algum modo, corresponder a tão grande amor praticava ásperas penitências e rigorosos jejuns.

A sua devoção a Nossa Senhora, especialmente no mistério da sua Imaculada Conceição, foi sempre aumentando; ardia em desejos de A imitar e fazer algo de grande para estender o seu amor a todo o mundo. Enfim, o seu comportamento era tal, que edificava a quem tratava com ela, sendo considerada por todos como pessoa de extraordinária virtude.

Ao entrar no mosteiro, decidiu que nenhum mortal haveria de ver o seu rosto e cobriu-o com um véu branco que só tirava quando a rainha, já arrependida, a visitava.

Sem palavras mas com a sua vida, Beatriz ensinou ao mundo como se deve perdoar totalmente e até mesmo ajudar aqueles que nos ofendem. Se custa à natureza, façamos como Beatriz e peçamos a Deus essa graça, através da oração insistente.

S. Francisco e Sto. António
aparecem a Santa Beatriz
na viagem para Toledo
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Santa Beatriz e a Rainha Isabel, a Católica, escrevem ao Papa
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Santa Beatriz em adoração eucarística
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Santa Beatriz recebe a Bula Inter Universa
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Morte de Santa Beatriz

O momento de ir até ao fim

Ao fim de trinta anos de paciente purificação e intenso crescimento espiritual, a Santíssima Virgem revelou-lhe que chegara a hora, tão suspirada, de fundar a Ordem que lhe pedira.

Quando a rainha Isabel visitava Beatriz, certamente levava consigo a sua filha Isabel, que ficou conhecida na História como Isabel, a Católica; teria nascido deste contacto a grande admiração e amizade que ligou estas duas grandes mulheres.

Ao saber dos planos de Beatriz, Isabel, a Católica (era na época rainha), quis colaborar com ela e prontificou-se a ceder parte dos edifícios dos Palácios de Galiana, para a fundação do novo mosteiro.

A partir de 1484, Beatriz passou a viver nesta casa com doze jovens que se deixaram cativar pelo seu ideal de consagração ao Senhor, honrando a Imaculada Conceição de Maria. A vida religiosa que Beatriz aí levava correspondia ao estilo que havia imaginado mas, para ser oficial, necessitava da aprovação pontifícia. Para que este facto se concretizasse foi muito útil a ajuda da rainha Isabel, a Católica. A aprovação foi-lhes concedida pelo Papa Inocêncio VIII, no ano 1489. Beatriz rejubilou com a notícia da aprovação da Ordem mas esta alegria foi breve, pois o barco que transportava a preciosa Bula naufragou. Beatriz não desanimou e com uma grande fé rezou confiadamente três dias e três noites diante do sacrário. Ao fim desses dias, ao procurar um determinado objecto num baú, qual não foi o seu espanto ao encontrar a Bula pontifícia! Este documento encontra-se em Toledo, no Convento das Concepcionistas. Mas as provações de Beatriz não ficaram por aqui...

Ela ultimava os preparativos para, enfim, professar com as doze jovens que a acompanhavam, quando a Virgem Imaculada lhe apareceu dizendo: «Não é da nossa vontade que gozes na terra o que tanto desejas, dentro de dez dias virei buscar-te...». Vendo os seus planos desfeitos, Beatriz abandonou-se tranquilamente à vontade de Deus e já no leito, prestes a morrer, emitiu os votos religiosos tornando-se a primeira Concepcionista.

Dois factos extraordinários acompanharam a sua morte. Quando, para administrar a Santa Unção lhe levantaram o véu que sempre trazia, o seu rosto irradiava tanta luz que iluminou o quarto. Na fronte...apareceu uma estrela! A marca deixada pela estrela no crânio de Beatriz ainda se pode ver nos seus restos mortais.

Com a morte de Beatriz as doze jovens que a acompanhavam, depois de muitas tribulações e controvérsias mas com o apoio vigoroso dos Frades Franciscanos, professaram, tomando o hábito branco e o manto azul como a Santíssima Virgem tinha indicado a Santa Beatriz, aquando da sua aparição. Se as obras de Deus são sempre seladas pela cruz, também a Ordem que estava no início sofreu tais contradições que quase a levavam à extinção. Mas após um período conturbado, com o auxílio divino, conseguiu crescer e espalhar-se por diversas partes do mundo sendo a primeira Ordem Contemplativa no continente americano, na época dos descobrimentos.

Com fama de santidade

Ainda em vida, Beatriz era tida como uma mulher de grande virtude, "como pessoa que gozou de protecção divina, especialmente, do amparo da Santíssima Virgem". Logo que morreu começaram a atribuir vários milagres à sua intercessão. Passou a ter culto público, culto esse que se estendeu aos nossos dias.

Visto que era tida por todos como santa, não houve pressa de instaurar o processo de canonização para o reconhecimento oficial da sua santidade. De facto, depois de várias vicissitudes, só em 1926 foi beatificada por Pio XI e canonizada por Paulo VI, em 3 de Outubro de 1976.

Porque é que esta Santa, do século XV, só agora, nos nossos dias, foi canonizada? Deus não repete as suas obras, cada uma é única! Os santos são todos diferentes e muitas vezes a sua vida e mensagem é uma chamada de atenção para os diversos problemas da época em que viveram. Mas «a figura de Beatriz, inocente, humilde e pura é um alerta para que os homens e mulheres do nosso tempo, não se deixem arrastar pela torrente do hedonismo actual».

Beatriz, à semelhança daquela que imitou em toda a sua vida, — a Santíssima Virgem — é o protótipo da mulher e do homem verdadeiramente livre, que sabe escolher os verdadeiros valores.

Os tempos estão em contínua mudança e o homem e a mulher evoluem, mas há valores que são de sempre e para sempre! "Bem-aventurados os que fazem o que dizem, e dizem o que pensam. Com eles o reino dos céus fica mais perto de todos nós.

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