Uma carta do deserto, no dia do aniversário da canonização de Sta. Beatriz da Silva
- Monjas Concepcionistas Franciscanas
- 3 de out. de 2024
- 3 min de leitura
«Hei-de atrair ao meu amor a casa de Israel,
hei-de conduzi-la ao deserto e falar-lhe ao coração.» Os 2, 16

Porque é que Deus escolhe o deserto como lugar de encontro?
De facto, tanto para o povo de Israel como para nós hoje, o deserto sempre foi visto como um
lugar desolado, onde as condições são pouco favoráveis para a existência de vida, um lugar de
perigos e de solidão. No entanto, quando Deus salvou os israelitas do Egipto, fê-los passar pelo
deserto, antes de chegarem à Terra Prometida, fê-los experimentar a precariedade de uma
vida nómada, mas porquê?
Na verdade, o que Deus queria era firmar uma Aliança, para que Israel se tornasse realmente o
Seu povo. E para isso era necessário o deserto, não como morada definitiva, mas como lugar
indispensável para reorientar o coração para o Único e Verdadeiro Deus e Senhor. Foi fácil
reconhecer o poder de Deus quando Ele os libertou da escravidão do Egipto, mas… e no
deserto?!
Deus não queria ser amado por aquilo que dava ou que fazia em seu favor, mas queria ser
amado por Si mesmo. Por isso, apesar de ter sido um tempo de provação, onde tudo era posto
em questão porque parecia que não havia nenhum tipo de seguranças, o deserto era o lugar
privilegiado, que Deus escolhia para os ensinar a amar de forma livre e desinteressada.
Também hoje é este o caminho que Ele nos quer propor!
Deus convida-nos a retirarmo-nos, não para ficarmos no isolamento, mas para nos
encontrarmos com Ele. Deus quer falar ao nosso coração, mas para isso é necessário purificá-
lo e libertá-lo de tantas cordas que ainda o mantêm preso e não o deixam experimentar a
verdade do Seu amor.

Por isso, nesta perspetiva, o deserto deixa de ser visto apenas como um lugar inóspito e passa
a ser um lugar e um tempo de graça, onde a solidão, a sede, a fome, a tentação, nos desafiam
a fixar o olhar nAquele que pode realmente encher o vazio do nosso coração, saciar a nossa
sede de Verdade, alimentar-nos com a Palavra e o Pão da Vida, esclarecer as dúvidas que nos
fazem vacilar, e indicar-nos o Caminho para a Terra Prometida; fixar o olhar nAquele que
permanece fiel à Sua Aliança, mesmo quando caímos na tentação de seguir e adorar outros
deuses, que aparentemente nos dão respostas ou soluções mais rápidas e fáceis; voltar de
novo o olhar para Aquele que continua a amar-nos, a chamar por nós com ternura e a acolher-
nos na Sua misericórdia.
Diante de tudo isto, só posso agradecer ao Senhor, por esta graça que me está a ser dada, de
um tempo de retiro, como preparação para a Profissão Solene. Fazer esta experiência de
deserto é desafiante, mas é uma oportunidade para aprender a buscar o rosto de Deus e
deixar-me encontrar e amar por Ele, não nas minhas ilusões e aparências, mas na verdade e
pobreza do meu coração.
Que Santa Beatriz da Silva, que cobriu o seu rosto com um véu para “não ser vista por
ninguém, senão por seu Único Esposo, o Senhor Jesus Cristo” (C.G. 60), nos ensine a desejar o
Único necessário, “vivendo só para Deus, a partir da fé, da oração constante, da
disponibilidade e do ocultamento silencioso” (C.G. 4) tal como viveu a Virgem Maria.
Ir. Inês Isabel de Maria Imaculada, oic
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